sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra o quão necessitamos de algo/alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te preciso. Perto, longe, tanto faz. Preciso saber que tu está bem, se respira, se comeu ou tomou banho - com o calor que está fazendo neste verão, tome pelo menos uns três ao dia, e pense em mim, estou com calor também. Me faz bem pensar nessas atividades corriqueiras, que supostamente você está fazendo. Ah, e eu estou te esperando, com meu vestido curto, óculos escuros grandes e meu coração pulsando forte, e te abraçar até sentir o mundo girar apenas para nós. É, eu gosto muito de ti.”

Caio Fernando Abreu
Quando ele sorri desarmado, limitado e impotente, para todas as minhas dúvidas, inconstâncias e chatices, eu sei que é daquele sorriso que minha alma precisa. Ele não faz muito pela minha angústia existencial, até por não saber. E consegue tudo de mim. Consegue até o que ninguém nunca conseguiu: me deixar leve.Ai você se pergunta: Te faz se sentir leve como?! Sabe rir mole de bobeira? Sabe dançar idiota de alegria? Sabe dormir gemendo de saudade? Sabe tomar banho sorrindo para a sua pele? Sabe cantar bem alto para o mundo entender? Sabe se achar bonita mesmo de pijama e olheiras? Sabe ter fome de mundo segundos depois de falar com ele? Sabe não aguentar? Sabe sobrevoar o frio, o cinza, os medos, os erros e tudo que pode dar errado? É ele me faz sentir tudo isso de um jeito “leve”.Eu queria parar com tudo isso, ele é um cara que não pode acompanhar minha louca linha de raciocínio meio poeta, meio neurótica, meio madura. Mas ainda assim eu o desejo tanto. E ama-lo não é fácil, é quase o anti-amor. É muito quase como se ele nem existisse, porque só o homem perfeito mereceria tanto sentimento. E eu o anulo o tempo todo dizendo para mim, repetindo para mim, o quanto ele falha, o quanto ele fraqueja, o quanto ele se engana. E fazendo isso, eu só consigo ama-lo mais ainda.E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado […]

Tati Bernardi
E viro a cabeça pra pensar em outra coisa. É mais feliz gostar, amar é pra quem pode. Mas você ou a vida ou sei lá. Insiste. E então chega enorme. E só me resta rir que nem quando vejo um bebê muito pequeno e lindo. Você ri. Vai fazer o quê? É o milagre maravilhoso da vida e eu ficando brega e cheia de medo e cheia de vontade de te contar tantas coisas e nem sei se você gosta de ouvir meus atropelos. Muito amor. E então fico querendo não trair a beleza. Com você sinto a fidelidade de ser tranquila. Um pacto de paz com o mundo. Pra não me afastar de você quando estou longe. E é impossível então que os martelos do apartamento de cima sejam realmente martelos. E é impossível que as chatices do dia sejam realmente sem solução. E os outros caras, aviso, olha, é amor. É amor. Ainda que eu quisesse, não consigo mais nem um centímetro pra você. Desculpa. O amor é terrivelmente fiel. Porque ele ocupa coisas nossas que nem existem nos sentidos conhecidos. É como tomar água morna depois de ter engolido um filtro inteiro de água geladinha. Ninguém nem pensa nisso. Muito amor. De um jeito que era mesmo o que eu achava que existia. E é orgânico dentro da gente ainda que vendo de fora não pareça caber. O corpo dá um jeito. Minha casca reclama mas incha. Tudo faz drama dentro de mim, ainda que nada seja realmente de surpresa

Tati Bernardi
Mas você sabe, foi muito importante pra mim... isso posso te falar. Nunca foi aquele que me deixou de perna bamba ou abalou as estruturas (que são os que eu sempre gosto e me ferro), mas você me deu seu amor e eu te dei o meu... de todas as formas. E foi com você que eu descobri o que era amar mesmo, de verdade. Obrigada!
Tati Bernardi
Eu tenho medo de acreditar em você, de te desejar tanto tanto e acabar descobrindo que eu ainda tenho um coração e que ele ainda pode amar muito alguém.
Tati Bernardi

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O silencio funebre do meu pai era uma das coisas que mais me incomodava, no café dava até pra ouvir ele mastigando o pão de tão quieto que ele ficava na minha frente. Eles tinham pena de mim, mas eu também tinha pena deles. Minha vontade era dizer não se preocupem vocês podem me devolves pra casa de adoção se não gostaram da mercadoria. Mas pena, pena mesmo eu tinha da minha mãe, ela se esforçava pra encontrar uma coisa boa em mim e pelo visto nunca conseguiu encontra - lá.

Bruna surfistinha

Francisco: Eu te amo.


Tomaz: Por que você me ama?


Francisco: Eu te amo porque você é meu. Te amo porque você precisa de amor, eu te amo porque quando você me olha eu me sinto um herói, sempre foi assim. Eu te amo porque quando eu te toco eu me sinto mais homem do que qualquer outro.


Tomaz: Eu também te amo.


Francisco: Por que você também me ama?


Tomaz: Eu te amo porque quando eu te toco eu faço você se sentir mais homem do que qualquer outro. Eu te amo porque nunca poderão nos acusar de amor. Eu te amo porque para entender o nosso amor ia ser preciso virar o mundo de cabeça para baixo. Eu te amo porque você poderia amar qualquer outra pessoa, mas mesmo assim você me ama.


Do começo ao fim.

Justamente quando você acha que as coisas não podem piorar, elas pioram. Mas exatamente quando você acha que elas não podem melhorar, elas melhoram.

Querido John.

— Porque eu sempre sinto atração por uma pessoa que eu sei que não é boa?


— Eu acho que eu sei essa resposta. Porque você espera está enganado e sempre que ela faz uma coisa que mostra que ela não é boa você ignora e sempre que ela age bem e te surpreende ela te reconquista e aí você esquece a ideia de que ela não serve pra você.


O amor não tira férias

“Nós dois sabemos que eu preciso parar de amar você. seria ótimo se você me deixasse tentar. ” O amor não tira férias"

- É pra sempre?


- É pra sempre mesmo.



Do começo ao fim.

Ser capaz de se entregar inteiro e completamente a uma outra pessoa é a melhor coisa da vida. O amor verdadeiro começa aí, nessa entrega incondicional. A vida pessoal só vale a pena quando se acredita na dependência mútua.

Do começo ao fim.
Dizem que as pessoas mais felizes são aquelas que não precisam fazer história. As que fazem enfatizam através dos seus feitos a luta pela vida, eterno embate.

Do começo ao fim.
- E, francamente, eu estou tão cansado de sentir sua falta…

(Amor à distância)

“Eu sei como é se sentir extremamente pequena e insignificante e como isso doi em lugares que você nem sabia que tinha em você. E não importa quantos cortes de cabelo você faça, quantas vezes vá a academia ou quantas garrafas você toma com suas amigas, você continua indo pra cama todas as noites… repassando todos os detalhes e se perguntando o que fez de errado ou como pôde ter entendido errado.. ou como por aquele momento pensou que era feliz. Até se convence que um dia ele irá se arrepender e virá bater na sua porta…e depois de tudo, ainda que essa situação tenha durado muito tempo, vc vai para um lugar novo e conhece pessoas que te fazem sentir útil de novo... e vai recompondo sua alma, pedaço a pedaço... e toda aquela confusão, os anos desperdiçados da sua vida começam a desaparecer..”


O amor não tira férias

Só quero que seja natural, simples, fácil e bom.
Tati Bernardi
"Não tenho dúvida quanto ao caminho escolhido. Eu, do fundo do meu coração, tenho um orgulho absurdo de ser quem eu sou. Não vou dizer que é fácil, e que nunca deu vontade de desistir, mas vale muito mais a pena continuar. Tenho orgulho de conseguir transformar tudo o que dói em mim em aprendizado, fortalecimento, ao invés de encher a cara, me drogar ou simplesmente fazer de conta que nada está acontecendo, que nada me atinge e eu sou superior a dor. Dói mesmo, eu me apaixono mesmo, eu sou intensa mesmo, eu me ferro mesmo, às vezes eu ferro as pessoas mesmo. Tudo é bom, tudo é vazio, tudo é bom de novo. Viver é um absurdo e não dá pra passar por isso tão ileso. Eu prefiro ter histórias pra contar e como não dá pra fazer rascunho mesmo...Tenho orgulho de ter construído um mundo onde qualquer pessoa, da mais incrível à mais idiota, possa virar personagem. E de ter construído um mundo onde todos os sentimentos viram enredos com trilhas e a direção de arte certa. Nesse mundo, eu vivo bem escondida e protegida.Ou vocês acham mesmo que eu sou inconseqüente e construiria um castelo tão escancarado sem ter pensando na fortaleza perfeita para mantê-lo intacto?"
Tati Bernardi
Mas você com esse seu jeito só seu, de não me permitir saber o que esperar de você, me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. Tati Bernardi
"(...)Resumindo: estar sozinho é triste, enche o saco dos outros e deve fazer mal para a saúde." "(...)Resumindo: estar sozinho é triste, enche o saco dos outros e deve fazer mal para a saúde."
Tati Bernardi

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Consideração

Já tinha um mês e resolvi ir nessa festa com cara de festa que você vai. Toda pessoa de cabelo cheio que entrava eu achava que era você. Assim como acho quando estou na rua, no supermercado, na fila do cinema, dormindo. Virei uma caçadora de pessoas cacheadas. Virei uma caçadora de você em todas as pessoas. Então você chegou na festa. E eu apenas sorri e sorri e sorri. Porque era isso. Eu queria te ver apenas. A dor numa caixinha embaixo dos meus pés e eu mais alta pra poder te abraçar sem dor, perto da sua nuca e por um segundo. Eu te acho bonito de formas tão variadas e profundas e insuportáveis. Eu vejo você parecendo um leãozinho no fundo da festa. Suando e analisando. O rei escondido escolhendo a presa que não vai atacar. Com sua eterna tristeza cheia de piadas afiadas. Suas facas afiadas de graças para defender as tristezas que nadam baixas nos seus olhos de quem não quer fazer mal. Mas faz. Seus olhos. Em volta um riozinho melancólico e no centro o sol feliz e novinho chegando. E tudo isso vem forte como um soco de buquê de flores de aço no meu estômago. E eu quero ir até você e te dizer que eu sei que você desmaia quando faz exame de sangue. E como eu gosto de você por isso. E como eu queria tirar todo meu sangue em pé pra você jamais cair. E como eu gosto de você por causa do e-mail que você mandou pro seu amigo com problemas. Como gosto quando você lembra de alguém e precisa demonstrar naquela hora porque tem medo da frieza das suas distrações. Suas listas de culturas e atenções. Os vasinhos. Os vasinhos coloridos da cozinha me matam. A história do milagre que te salvou da queda da estante. Você arrepiado falando em anjos. Essas suas delicadezas em detalhes dormem e acordam comigo. Acariciam e perfuram meu peito vinte e quatro horas por dia. Uma saudade dos mil anos que passamos, ou das três semanas. A loucura de gostar tanto pra tão pouco ou simplesmente a loucura de tanto acabar assim. Fora tudo o que guardei de você, me restou a consideração que você guardou por mim. Sua ligação depois, quando me encontra. Sua mão estendida. Sua lamentação pela vida como ela é. Sua gentileza disfarçada de vergonha por não gostar mais de mim. A maneira que você tem de pedir perdão por ser mais um cara que parte assim que rouba um coração. Você é o mocinho que se desculpa pelo próprio bandido. Finjo que aceito suas considerações mas é apenas pra ter novamente o segundo. Como o segundo do meu nariz na sua nuca quando consigo, por um segundo, te abraçar sem dor. O segundo do seu nome na tela do meu celular. O segundo da sua voz do outro lado como se fosse possível começar tudo de novo e eu charmosa e você me fazendo rir e tudo o que poderia ser. O segundo em que suspiro e digo alô e sinto o cheiro da sua sala. Então aceito a sua enorme consideração pequena, responsável, curta, cortante. Aceito você de longe. Aceito suas costas indo. Aceito o último cacho virando a esquina. O último fio preso no pé da minha cama. Não é que aceito. Quem gosta assim não come migalhas porque é melhor do que nada, come porque as migalhas já constituem o nó que ficou na garganta. Seus pedaços estão colados na gosma entalada de tudo o que acabou em todas as instâncias menos nos meus suspiros. Não se digere amor, não se cospe amor, amor é o engasgo que a gente disfarça sorrindo de dor. Aceito sua consideração de carinho no topo da minha cabeça, seu dedilhar de dedos nos meus ombros, seu tchauzinho do bem partindo para algo que não me leva junto e nunca mais levará, seu beijinho profundo de perdão pela falta de profundidade. Aceito apenas porque toda a lama, toda a raiva, todo o nojo e toda a indignação se calam para ver você passar.

Tati bernardi

Quem ri por último, Rivotril

Da porta da minha casa até a porta do táxi demora mas não me irrita. Lenta, bem lenta. O raciocínio diz tão devagar que deixo pra lá. As pernas estão tão devagares que deixo pra lá. Mas vou. A mala de mão pesa mas não machuca. As rodinhas da outra mala trururu, trururu. Viver agora é um embalinho de barco ou de berço. Podia enjoar mas a felicidade de agora não deixa. Felicidade é sono. O oposto de despertar. Felicidade é esse segundinho de sono entre seu sonho e algo na TV. Despertar é preciso, mas só depois. Agora embalinho de barco. As rodinhas fazem trururu, trururu. A dor está distante, em um planeta que guarda pra mim a dor. Pra depois. Por via das dúvidas, coloco outro Rivotril de 0,25mg embaixo da língua. Já tomei um bem cedo e quando chegar no aeroporto vou tomar outro. Somando tudo, são 0,75mg. A psiquiatra disse que posso tomar até 6mg por dia. E mais que isso? Ela muda de assunto. Mas com 0,75mg já fico bem legal. Bem legal mesmo. Pensa num dia que você tomou o vinho certo, transou com a pessoa certa e depois capotou num lençol de zilhões de fios egípcios. Atrás dos meus joelhos aquele gostosinho da fraqueza sem julgamento. Na minha nuca, o quente de algum colo que nunca vai acabar. Se o uísque é o cachorro engarrafado o Rivotril é a mãe empilulada. A mãe idealizada, claro. Mãe, não me deixe, segura na minha mão. Com 0,50mg já não sinto mais medo de algum moço ruim não me deixar entrar no avião com minha droga. Eu o abraçaria e cantaria "Just put me in a wheelchair and get me on a plane. Hurry, hurry, hurry before I go insane…". Não, não é essa. É o anjo que canta Candy Says. Mas que anjo? Ou o Bob falando cause every little thing is gonna be all right. Rivotril vai deixar seu cérebro musical pacas. A caixinha de música, lenta e constante. Ao invés da máquina macabra de datilografar desgraças cravadas no peito. Ao invés do vagão trem do horror passeando por baixo do esgoto e me dizendo que não tem ar, não tem ar, não cheira bem, é o fim, é ruim demais. Embalinho de barco, naninha de nenê, colo, quente, possibilidades. Demoro tanto pra falar o e-ticket que chegam os reforços. Descobriram meu segredo. Por trás dos meus cabelos rebeldes e dos meus enormes óculos de pessoa rica existe uma caipira assada porque está fazendo coco sem parar de medo. De medo do quê? De ter medo. Mas de ter medo do quê? Não sei, cara. Juro. Se eu realmente precisar te responder eu diria "ir". Eu tenho medo de ir. Não acordo para o Nutre de banana e nem para o suco de laranja com gelo de água de sabe-se-lá-a-procedência. Tenho medo do gelo do avião. Tenho fobia daquele cheiro de bafo enjaulado que forma crostas no ar. Dentro do avião fede. Se alguém espirrar vai pra onde? Não gosto de aeroporto, nem de avião e odeio particularmente os saquinhos de vômito. Tenho medo do som da privada. O limbo supersônico. Suas excreções explodidas no universo. Antes do aviso de desligar celulares minha mãe me liga e eu choro, choro, como eu choro. Não quero ir, não quero morrer, não quero as japinhas bebês sendo testadas por homens com roupa de apicultor pra ver se viraram armas nucleares, não quero as mortes da Líbia, não quero a patinha quebrada da labradora da vizinha, não quero que mãe e pai e domingos de sol com jornais acabem. Silêncio e segundos depois, minha mãe entre o susto e a vontade de rir, me fala "mas você só está indo fazer uma reunião em Curitiba". Sim, sim, não se explica. Eu não sei explicar o que é isso que dispara em mim quando faço malas e vou. Como é que fica o mundo quando destranco minha bolha? Sofrer é de uma arrogância egocêntrica sem limites. Tenho medo de dobrar a esquina de casa. Tenho medo de fazer aniversários. Tenho medo de ser mulher. Tenho medo que me magoem. Tenho medo de estarem rindo do quanto eu sou feliz quando alguém me abraça e eu me largo um pouco. Minha cabeça pesa quilos demais pro meu pescoço. Alguém por favor só me segura um pouquinho? Tenho medo de acordar. Tenho medo quando acaba a bateria do meu Iphone porque mexer nele me distrai de pensar como tudo é bem maluco. Estou quase dormindo, quase. Sinto uma tristeza profunda de ir. Ir é muito triste. E estou sempre indo apesar das minhas unhas desesperadas eternamente esfolando algum conforto que deixou saudades apesar de nunca ter existido. Mas o Rivotril vai comigo e daqui a pouco me traz de volta. Tenho 32 anos, sou uma mulher, o cara ao lado quer me comer, a reunião é sobre um lance bem maduro. Bem de mulher bacana e fodona que ganha dinheiro e manda nas pessoas. Bem de quem tem talento. Eu tenho talento, as pessoas me pagam, me querem, me obedecem. Eu quero minha mãe. Eu não sou essa mulher que eu sou. Eu sou, mas às vezes não. É foda manter isso aí que sou o tempo todo. É um drama, uma novela, apenas uma reunião em Curitiba, em 42 minutos estarei lá. Depois estarei aqui. Depois mil anos e todos nós mortos e os depois de nós mortos. Depois mais amores que me racham inteira e eu catando minhas bolinhas de gude pelos ralos de todas as cidades. Tenho medo de não ser mãe. Tenho medo de não ter fome. Tenho medo de não dormir. Ou tudo isso demais. Mais um Rivotril. O restinho dos ratos gritando somem. O restinho das pombas macabras somem. O restinho dos corvos somem. Todos para longe. Lá vai a mulher que assusta. Mas assusta principalmente eu mesma. Minha psiquiatra me disse que não sou fraca, sou humana, mas, poxa, às vezes é bem fraco ser humano. Preciso gostar dessa parte, preciso gostar dessa parte. Tirar meu salto alto enfincado no meu próprio peito. O céu está bem limpo enquanto eu durmo em algum lugar bem longe de mim.

Tati Bernardi
Eu olho pra sua tatuagem e pro tamanho do seu braço e pros calos da sua mão e acho que vai dar tudo certo. Me encho de esperança e nada. Vem você e me trata tão bem. Estraga tudo.Mania de ser bom moço, coisa chata.
Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder.
E lá vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que já que eu não liguei e não atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mão já basta. E que ele quer conhecer minha mãe. E que viajar sem mim é um final de semana nulo. E que tudo bem se eu só quiser ficar lendo e não abrir a boca.
Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode.
Não dá, assim não dá. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior é que vicia. Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Anos nos servindo de capacho, feliz da vida, e aí chega um desavisado com a coxa mais incrível do país e muda tudo. Até assoviando eu tô agora. Que desgraça.
Ontem quase, quase, quase ele me tratou mal. Foi por muito pouco. Eu senti que a coisa tava vindo. Cruzei os dedos. Cheguei a implorar ao acaso. Vai, meu filho. Só um pouquinho. Me xinga, vai. Me dá uma apertada mais forte no braço. Fala de outra mulher. Atende algum amigo retardado bem na hora que eu tava falando dos meus medos. Manda eu calar a boca. Sei lá. Faz alguma coisa homem!
E era piada. Era piadinha. Ele fez que tava bravo. E acabou. Já veio com o papo chato de que me ama e começou a melação de novo. Eita homem pra me beijar. Coisa chata.
Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lá. Onde já se viu andar com um homem desses. O homem me busca todas as vezes, me espera na porta, abre a porta do carro. Isso quando não me suspende no ar e fala 456 elogios em menos de cinco segundos. Pra piorar, ele ainda tem o pior dos defeitos da humanidade: ele esqueceu a ex namorada. Depois de trinta anos me relacionando só com homens obcecados por amores antigos, agora me aparece um obcecado por mim que nem lembra direito o nome da ex. Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz?
Durmo que é uma maravilha. A pele está incrível. A fome voltou. A vida tá de uma chatice ímpar. Alguém pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia até me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.

Tati Bernardi
Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais,
tive insônia e excesso de sono,
falta de apetite e apetite em excesso,
vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro).
Agora está passando:
um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer.

Caio Fernando Abreu
"Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada."

tati bernardi
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas... Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.

Caio Fernando Abreu
Eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas.

Caio Fernando Abreu
"Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois."
Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Talvez o mal é que a gente pede amor o tempo todo. Não se preocupa nunca em dar amor, sem esperar reciprocidade.
Caio Fernando Abreu
“Mesmo depois de conhecer vários e novos sorrisos, o dele ainda é o meu preferido.”
"Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi, depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer. Ou havia? Ah, como não sei responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo."

— Caio Fernando Abreu
''Aprendi a não contar muito com os outros: na medida do possível, faço tudo só. Dá mais certo.”