quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"Uma vez ouvi a história de um pintor famoso que passara a vida inteira na miséria e que, hipoteticamente, cortou as orelhas por amor. Tive vontade de fazer o mesmo, mas me contive. O curioso era como eu assimilara meus sonhos. (...) Meus sonhos eram livros narrados por mim. E quando acordava, sempre tinha um desenho a descrever."

"A banca de revista é um lugar comum com uma variedade gigantesca de personalidades. Chega a ser gritante a presença escancarada dos egos que lá habitam."

"Às vezes me sinto apática. Olhei bem séria para o espelho e aquela figura parecia muito comigo. Logo me vieram os versos de uma poetisa... "Ah, eu não tinha esses olhos, não tinha esse rosto magro", e nem lembro mais o quê."

"Na real eu nem sabia o que estava pensando. Só não estava com vontade de ouvir. Esse lance de interagir é um saco. O sujeito fala alguma coisa e você tem que responder. Não entendo como isso funciona. De vez em quando lembro que as pessoas costumam falar umas com as outras e tento fazer o mesmo, mas, por mim, estaria muito bem sem dirigir a palavra a ninguém."


"A dor me fazia um bem incrível. Era como se tudo estivesse compensado e aquilo me aliviava a alma, ou o que eu entendia por alma. Mentalmente conversava com a única pessoa que me entendia - eu mesma. (...) O gato se aproximou lentamente, meio desconfiado. O sangue já estava estancado e todas as marcas devidamente disfarçadas. (...) É uma mania idiota. Eu me corto."

"Eu nunca choro. Sei que todos me olham e, por isso, tranco as lágrimas numa gaveta da cômoda embaixo da escova de cabelos."

"Tudo de que eu preciso é lembrar os dias felizes em que o sol brilhava e os girassóis exalavam um cheiro bom em suas cores amigáveis. Mas não consigo fazer com que esses dias voltem. A tempestade cinzenta que veio do norte me atingia a cabeça e eu só via sangue, dor e culpa."

"De um jeito ou de outro, acho que fujo, isso sim. Fujo de uma verdade desconhecida e conheço a minha história. A história que me é conveniente e consoladora. A minha verdade."

"Menina forte, decidida, há muito tempo se tornara medrosa. Alimenta agora certos medos que confundem o entendimento de quem a cerca. Com a adolescência, o comportamento passou a ser metódico e previsível. Mas alguma coisa chama a atenção. Por trás de todo aquele medo, há um olhar de crueza, céptico e despido de brilho e sentimentalismo. As pessoas não ousam encará-la porque a dor é insuportavelmente perceptível para aqueles que têm compaixão."

"Quando pega o isqueiro para acender o fogo, pensa: a corda sempre arrebenta para o mais fraco. Continua seu trajeto."

"Ela tinha um sorriso cínico, sangrava muito, mas não dizia um ai. Somente ria como se pudesse, a qualquer momento, soltar uma piadinha do mais alto nível de humor negro. A paciente era eu. Naquele momento, eu me achava provocativa. Sentia que estava bonita. (...) Fiquei lá, sentada na maca, rindo orgulhosa, como quem diz: olha a nova que eu aprontei hoje. Eu gosto de provocar. Eu sempre sei quais são os calos de um pai de família. Eu provoco qualquer um."

"Eu não quero conselhos, não quero sermões, eu só quero ter razão de meus atos precipitados e escolhas generalizadas. Eu nunca olho nos olhos de ninguém."

"Aquele dia estava sendo inacreditável. Não era nem meio-dia ainda e eu estava completamente sociável. Já tinha falado cm a empregada, com o médico e com o espelho. Não costumo falar nem comigo mesma."

"Eu me obrigo a reinventar-me todos os dias. Eu tento simplificar a vida, mas não sei porque cargas d'água ela fica mais complexa. E eu fico olhando isso tudo através dos meus olhos, que não sei se são ingênuos ou somente percebem ou conhecem simplicidade."